A 'go getter' blog with a purpose - keep your eyes on it!

Wednesday, January 31, 2007

Como entendo a intolerância em África para com os homossexuais?

Pensei um pouco sobre este assunto depois de saber das notícias que deram origem aos dois últimos post que publiquei (este e este), e cheguei a uma resposta que me pareceu mais ou menos plausível. Penso que o que está na base da homofobia, e outras formas de discriminação em África seja o confronto ideológico de dois paradigmas religiosos – afinal a mesma razão de sempre, em todo o mundo, por muito laicas que outras regiões se apelidem.

O islamismo é a religião com maior tradição em África, já que precedeu a evangelização cristã. O nomadismo ancestral, adjunto à confluência de geografias, e a partilha de cultos e rituais entre povos africanos, porporcionou que o islamismo, emergente e vigoroso, se instalásse como paradigma dominante. No entanto, com o advento (bélico) da colonização, o Cristianismo tornou-se a religião oficial da maior parte dos ‘novos estados’, impondo filosofias quase sempre antagónicas relativamente às crenças das populações autóctones, fossem aquelas o islamismo, ou outros cultos místico-naturalistas.

Naturalmente, um e outro dos principais dogmas religiosos pretendem ser o mais influente sobre os comportamentos das populações, tendo-se originado uma ‘mestiçagem’ institucional insólita e dificil de descortinar, porque, sem quererem ceder nem dialogar, eles sustentam afinal os estados, ainda que em estabilidade periclitante: a justiça ‘oficiosa’ (popular) decalca quase sempre as regras islâmicas, e a justiça oficial (de estado) verga-se aos rigores da cristandade... donde decorrem tais sintomas como: populações a perpétuar a ablação do clitóris em meninas de 7 a 12 anos, e políticas de estado que não se preocupam em proteger a integridade das mulheres; populações que matam homossexuais e leis nacionais que ainda por cima os perseguem.

Na Europa e noutros países ‘desenvolvidos’, explica-se a homofobia com motivos socio-históricos, cultural-normativos, pois que nas culturas ‘modernas’ prima o laicismo (e a religião já não serve de desculpa... Pois!). Os estados africanos ainda não se podem laicizar, já que a Igreja ainda presta ali muitas formas de assistência às necessidades diversas que os estados sozinhos não conseguem suprir. Assim, a homofobia não encontra justificações socio-históricas/cultural-normativas que correspondam a uma laicização – processo longo de reformatação social – dos estados... As justificações são declaradamente religiosas! Logo, é sim e só a disputa pela fé a principal ignição do preconceito homofóbico em África.

8 comments:

Anonymous said...

ponto um: a natureza é bisexual, apesar de estarmos mais "naturalmente" condicionados para o nosso parceiro com quem poderemos propagar a espécie o cérebro humano é rebuscadíssimo e se aos animais não lhes faz confusão arranjar prazer no mesmo sexo a nós também não devia, mas ao mesmo tempo é uma fobia/moda urbana.

ponto2: a igreja católica sempre fez mais mal que bem, é culpa sua que a sida se propaga como uma gripe porque sua arrogancia asquerosa e principios totalmente toldados pelo preconceito imbuido de ganancia e a ilusão dogmática de que sua doutrina contém a unica salvaÇão possível, são deveras patéticos todos os seus seguidores e, se nem na europa conseguimos laicicizar-nos, imagine-se no meio da inanição e caos civil que existe em áfrica, religião é o ópio do povo e toda a gente que está na merda precisa de esperança, menus eu :P

www.motoratasdemarte.blogspot.com

Grace said...

Tenham cuidado com 'a moda', todos os heterossexuais, porque se são presumivelmente bissexuais, isso significa que são também... homossexuais... pelo menos em parte... Estão li(n)xados!
Enfim...

Any further comments, anyone!?

Siona said...

O meu único comentário, em relação à clericanalha: #(&%#""%/()&%$€%!!!

. said...

Comentário acidental... Concordo com a conclusão mas não é assim tão simples. A ideologia religiosa trabalha ao serviço do poder e a natalidade galopante é um motor do statu-quo, sobretudo em África, daí a questão do preservativo e da homofobia. Para além disso a religião tem um papel importante no desenvolvimento humano das pessoas, e desenhar teorias inclinadas contra a religião só prova o quanto ainda dependemos dela. Todos precisamos de acreditar em algo, mais não seja na nossa sexualidade como caminho para a felicidade. Se desaparecesse a religião desaparecia a homofobia? Bem hajam.

. said...

«Tenham cuidado com 'a moda', todos os heterossexuais, porque se são presumivelmente bissexuais, isso significa que são também... homossexuais... pelo menos em parte...»

"E nós não queremos cá misturas". Eu vou ter cuidado, não quero parecer "confuso"... :) Bem hajam.

Grace said...

Olá Muntubila, obrigada pelo seu comentário.
Eu diria, e dedunzindo alguma ideia do seu próprio comentário "Todos precisamos de acreditar em algo, mais não seja na nossa sexualidade como caminho para a felicidade"... que sim! Se Desaparecesse a religião seria provavelmente o fim da homofobia. Pois não nos bastaria apenas, afinal, que acreditássemos na nossa sexualidade? Cada um na sua, todos teríamos de admitir a validade das dos outros.

À parte desta questão, a homofobia e descriminações sexuais em África, ainda que pareçam um problema complexo e multi-dimencional naquelas sociedades, para mim representam uma coisa muito simples: existe, como noutros pontos do mundo - em que as questões político-sociais são tão divergentes - e ninguém, dos que podem, se preocupa em mudar a situação - atitude que noutros países já vai acontecendo. Tome o Brasil, tão católico e caótico, como exemplo.

. said...

Mas a minha sexualidade é algo demasiado fútil e hedonista para eu lhe confiar a minha esperança em viver. Tomo a sexualidade como uma química inevitável entre mim e quem amo mas não é isso que me faz viver. Acredito num sentido comum das coisas que faço, e na construção de uma vida para além da mortalidade (filhos, obras, etc). A sexualidade é uma especiaria, se for demasiado importante torna-se rapidamente alienante e intoxicante. Nos países nórdicos, países com altíssimas taxas de suicídio e com presença religiosa marginal ou insignificante, sobrevivem movimentos violentíssimos de dark-metal e outros neo-machismos e neo-cultimos. Que se ligam facilmente à homofobia, aos skinheads, etc, etc. Portanto aí está um caso em que o desaparecimento da religião só fez com que ela emergisse de formas marginais e profundamente extremas, mantendo-se homofobias, racismos e xenofobias de todo o tipo. E os países em que as diversas sexualidades vão mais avançadas serão provavelmente os mais religiosos e conservadores: Brasil, Espanha, Estados Unidos.

Em relação à homossexualidade a minha ideia é que se devem criar os mecanismos básicos de identificação e não-rejeição de cada um. Casamento, adopção, tudo isso. Mas respeitando um frágil equilíbrio entre a livre-sexualidade e a religião, através da progressiva laicização (integral) do Estado. Algo que não é possível em África devido às forças políticas que aí se movem com total despeito pela vida humana. Não tenho a certeza que a religão e a sexualidade sejam opostos ou sequer que sejam separáveis. O essencial para mim é a co-existência.

Grace said...

Cara Muntubila, eu não penso que a sexualidade seja simplesmente fútil ... É precisamente por ela não ser só acessória da personalidade que a homofobia, tratando-se de um preconceito sexual, assume, na caracterização de certas sociedades ou comunidades, expressões tão poderosas. Repare só: se a castidade deixásse de ser condição impreterível para a ordenação de padres católicos, que aconteceria ao Vaticano e para onde iria o 'santo' padre? Iria para o mundo, tornar-se-ia mundano e nada excepcional!

Se à sua sexualidade não confia a sua esperança de viver, não feche os olhos aqul@s para quem representa isso mesmo - desde sacerdotes aos homossexuais na Nigéria.