Sexo (i.) moralidade
Será que o sexo heterossexual é mais moral que o sexo homossexual?
A casa em que vivo neste momento foi-me emprestada por uma grande amiga, que, tendo-se casado no início do mês com um cidadão estrangeiro, deixou Portugal para ir viver lá fora. Quando me entregou a chave da casa instruiu-me sobre o funcionamento dos sistemas, dos electrodomésticos e... da cama. O que ela me disse foi que não trouxesse pessoas estranhas (!? – como toda a gente que eu conheço e ela não!?) para o apartamento, e em especial, que não deixasse ninguém cá dormir. Porque ela sabia como as coisas aconteciam, e podia ser de repente, e ela não queria que eu usásse a cama para fazer ‘aquelas coisas’, porque deveria respeitar aquela cama, que é a sua cama de casal.
Mas estaria a faltar ao respeito a quem afinal!? À cama ou ao casal!?
Pois! Quer-me parecer que no fundo a ela não lhe agradaria sequer imaginar – porque quanto a ele tenho dúvidas, e talvez ela também, razão pela qual lhe agradará menos ainda – que naquela cama pudesse já ter havido sexo lésbico e que a amiga Grace participava na ocasião!
Aquela cama é a cama onde todas as noites descanso. Não é a minha cama de casal, mas é a minha cama, neste momento. E isso é suficiente para que eu tenha todo o respeito do mundo por ela. Inclusivamente coloco-lhe os meus lençóis, novos, para que pouca diferença haja entre esta cama e outra qualquer das camas que ‘são minhas’ e que eu tanto estimo e respeito.
Não poderia, porventura, considerar eu que aquela cama não me serve porque já terá havido sexo heterossexual nela?
Foram outros lençois, outra vivência nesta habitação... mas sexo não é todo sexo!?
E será que de facto a cama se importa com a natureza do sexo e a orientação sexual dos amantes? Será que a cama prefere mesmo suportar os abanões heterossexuais às coreografias lésbicas!?
Não se trata de camas, como dá para perceber. Trata-se de mentalidades. De limitações nas ideias, de pré-concepções de que o sexo homossexual é porco e imoral, quiçá pecaminoso, porque consegue corromper não só os espíritos dos esposos – que entregues um ao outro pudessem ousar imaginar a cena lésbica e per(mas)turbar-se de nojo – mas também o espírito da ‘cama de casal’!
18 comments:
Meu deus (em quem não acredito), onde te foste meter tu? Grande amiga, arre. Devias-lhe dizer que o sexo Homosexual se faz da mesma maneira, e usando os mesmos wobbly bits, que o sexo Heterosexual. E que não envolve um ritual satânico como preliminar, ou coisa do género.
P.S. Quem me dera que na minha cama houvesse sexo Lésbico. LOL.
Beijocas.
Viva! Essa grande amiga de longa data cedeu-te a casa ou deixou-te ficar nela afim de a guardares? É que os seguranças fazem-se pagar bem caro. Quanto a sexo e moral, não me parece uma boa combinação, ponto final.
Bem, não há dúvida que o reparo dela foi preconceituoso e ofensivo. Mas encontro-me numa situação em que não posso criar ondas, razão pela qual não lhe dei uma torrencial descasca naquele instante. Mas foi difícil conter-me.
De qualquer modo, não fui notificada sobre o sofá, nem sobre o chão da sala e outros 3 quartos da casa (que não têm cama ainda) ou mesmo sobre a mesa e balcões da cozinha! :)
Já estou mais optimista, posso continuar a explorar os usos do gengibre nas minhas receitas!!
Luna: no meu ponto de vista sexo e moral podem 'coabitar' pacificamente. Só no abuso sexual é que se pode encontrar imoralidade. De resto, todo o acto concentido é um acto que não fere nenhuma moral (a não ser a de puritanos, pseudo-puritanos e afins que acham por bem interferir na vida e autonomia das outras pessoas).
Aliás, That's the Point!!
Se ela soubesse de facto sobre o momento e a oportunidade do sexo e de como as lésbicas o sentem - como quis transmitir na observação "pode acontecer de repente" - em vez de me ter avisado sobre a cama, ela ter-me-ia proibido de praticar sexo na casa de todo! E então, de cada vez que pudesse ocorrer eu ia para um Motel e no fim da minha estadia aqui apresentava-lhe a despeza!
Bem, eu espero mesmo que ela se enxergue.
Grande amiga que tens...
Mas olha, até tiveste sorte por não ter encontrado crucifixos e alhos debaixo dos lençóis... :)
@ Marlene: LOL!
Isso perturbava um bocado o satanismo da coisa toda, não?? :D
Marlene e L:
Não é bem aí que levo a minha retórica neste assunto. O que me incomoda mais não são símbolos de coisas sobrenaturais, é mesmo a verificação factual que a descriminação chegou à minha vida e aos meus amigos. Isto é difícil de assimilar, porque além de ter sido a primeira vez que me senti visada pela mira de alguém sobre um particular aspecto da minha vida, eu sei que a minha amiga não é homofóbica, e esse argumento nunca poderei usar. Se ela fosse homofóbica nunca teria oferecido tão generosamente esta casa que me abriga aqui. Contudo sei que ela nunca distinguirá uma coisa da outra, e ela nunca encontrará na sua observação o significado ofensivo que eu encontrei.
Por isso mesmo este é um incidente que vou esquecer, porque não merece a minha mágoa, e pior que isso, a asneira de perder uma grande amiga. Um dia sairei daqui e a cama some da minha vida. A deescriminação vai sumir com ela.
*****
:)
Isabel, olá! Obrigada por mais uma visita. :)*
Não posso compreender como é que essa "amiga" pode ser tua amiga.
Na minha cama, quando a empresto, dormem os meus amigos ou amigas com os namorados ou namoradas, obviamente. Não faria qualquer sentido que fosse diferente. Acho incrível o que ela te disse.
Isabela... é por ela ser minha amiga que eu lhe permito que diga estas coisas sem que corramos o risco de ser amigas. De todas as minhas amigas, aliás, ela é mesmo a única a quem deixo estas coisas passar impunes.
A descriminalão contra homossexuais é uma atitude muito baixa, tão baixa que mais uma vez não merece que eu perca uma amizade em consequência. E as acções ficam com quem as pratica: ela terá de lidar com a sua consciência da melhor maneira que souber; eu estou tranquila e saberei sem dúvida lidar com esta limitação da cama, que está longe de ser um entrave na minha amizade por ela.
Fiz um erro no último comment...
o que queria dizer era "...sem que corramos o risco de DEIXAR DE ser amigas."
Graciosa!
Bjs
Oh Isabel... por quem é! :)
Beijinhos
Grace,
Adorei seu texto. E mais uma vez gostaria de contar com a generosidade lusitana e pedir-lhe autorização para publica-lo em águas brasileiras... lá no Uva... deixo aí o meu e-mail para contato e aguardo sua resposta.
Grande beijo.
BF.
E-mail para contato: uvanavulva@hotmail.com
Beijos.
Cara BF, é com muito agrado que a recebemos no Eyes On The Pride. Também agradecemos a sua avaliação e interesse em publicar este post no seu blog. Tem a permissão para o fazer. :)
Volte sempre, beijos para si e felicidades para o seu blog.
Grace
bom comeco
Post a Comment