Associações homossexuais cristãs apelam à Igreja para não ser "fonte de atitudes homófobas"
via sapo noticias
28 de Setembro de 2008, 20:23
Évora, 28 Set (Lusa) -- Seis associações homossexuais cristãs de Portugal e Espanha apelaram hoje à hierarquia da Igreja para "reflectir" sobre a "melhor forma" de participar no debate social sobre questões que envolvem a homossexualidade "sem que seja fonte de atitudes homófobas".
Estas associações contestam sobretudo as atitudes da Igreja "ao opor-se às acções do Estado Laico, quando este promove ou discute propostas" visando "a igualdade entre todos os seus cidadãos" e "quando essas atitudes colidem com a mensagem inclusiva de Jesus".
O apelo surge num documento a enviar aos presidentes das conferências episcopais portuguesa e espanhola e subscrito pelas associações que participaram no 1º Encontro Ibérico de Grupos Homossexuais Cristãos, que terminou hoje, em Évora.
O encontro, organizado pelo Grupo Homossexual Católico português Rumos Novos, de Évora, juntou, este fim-de-semana, 26 representantes daquela e de outras cinco associações cristãs de homossexuais de Espanha.
"A Igreja tem sido homofóbica e tomado atitudes que potenciam a homofobia, através de uma posição de retracção e até de alguma negação dos homossexuais e, sobretudo, negando o acolhimento benévolo dos homossexuais crentes no seio da vida cristã", disse à agência Lusa o dirigente do grupo Rumos Novos, que quis identificar-se apenas pelo nome de José.
Segundo o responsável, "a Igreja, face aos novos conhecimentos da ciência, deve abrir-se a uma nova reflexão sobre a homossexualidade e, sobretudo, sobre a condição dos homossexuais crentes".
Neste sentido, no documento, as associações apelam aos bispos portugueses e espanhóis para que o próximo Sínodo, que vai realizar-se entre 05 e 26 de Outubro, no Vaticano, "seja um espaço privilegiado para uma nova reflexão teológica sobre a condição dos católicos homossexuais no seio da Igreja".
Uma reflexão "à luz do amplamente afirmado pelas ciências psicológicas e antropológicas de que a orientação sexual não é uma doença, nem uma perversão da natureza, mas outrossim uma variante absolutamente natural", sugerem as associações subscritoras do documento.
"E crentes de que os católicos homossexuais são membros do corpo místico de Jesus e fazem parte do povo de Deus, podendo expressar a sua sexualidade através de um modo conforme aos ensinamentos de Jesus Cristo", continua o apelo.
Além de temas ligados à condição dos homossexuais cristãos, os participantes no encontro debateram também o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a responsabilidade do Estado na promoção da Igualdade.
Neste sentido, as seis associações, disse José, apelam ao Governo português para aprovar legislação que permita o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo em Portugal, já que em Espanha, desde 2005, um casal de pessoas do mesmo sexo pode casar e adoptar crianças.
"Trata-se de casamento civil e não de matrimónio religioso", frisou José, referindo que "a Igreja deve ser livre de conceder o sacramento do matrimónio aos fiéis que entender".
No entanto, defendeu, "a Igreja não deve interferir nem opor-se às iniciativas do Estado Laico para legalizar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo".
Por "falta de tempo", explicou José, as associações não abordaram este fim-de-semana a adopção por casais homossexuais, que, juntamente com outros temas gays, lésbicos, bissexuais e transexuais (GLBT), serão discutidos no segundo Encontro Ibérico de Grupos Homossexuais Cristãos, que deverá realizar-se no próximo ano, em Espanha.
LL.
Lusa/Fim
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